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Vigésima Quarta Parte

Vigésima Quarta Parte

                     Vigésima Quarta Parte

        O fim dos desmandos – um novo começo

E assim, Brasília caíu nas mãos do povo. O Congresso e o Senado foram dissolvidos. Senadores e deputados sortudos bem conhecidos da mídia foram considerados hostis e enviados pra prisão, enquanto a maioria não teve a mesma sorte e caíu irremediavelmente nas mãos do povo, que os transformou em picadinhos. O então Presidente da República foi "convidado" a renunciar, o que ele fez com todo prazer, haja vista o desejo do povo de fazer dele e de sua família churrasco em praça pública. Em seguida o mesmo foi gentilmente conduzido com seus familiares até um presídio, preparado exclusivamente para eles, com todo requinte necessário e obviamente a segurança que um ex-Presidente merece. Por fim as lideranças revolucionárias e as Forças Armadas se reuniram para as decisões finais sobre os acordos firmados entre as partes. E assim, o mapa do Brasil sofreu uma nova configuração, com a separação e autonomia política das regiões Nordeste e Sul. No Sul nasceu a república da União Federativa dos Pampas, com sede em Florianópolis. No Nordeste nascia a União dos Estados Confederados do Nordeste, com sede em Recife. Não houve multas nem indenizações de guerra, somente um saldo monstruoso e avassalador de aproximadamente 400 mil mortos, entre revolucionários e militares. Mas como sempre, a população civil foi quem de fato sofreu, e o saldo de vítimas nunca vai ser realmente conhecido. Embora as estatísticas indiquem um total aproximado de 20 mil vítimas inocentes da insanidade, sendo que pelo menos 10 mil foram crianças, das quais aproximadamente 5 mil só na região Nordeste. O restante das vítimas foram mulheres e idosos. Abusos de poder, violação de direitos humanos, estupros em escala colossal, algo nunca imaginado nem nos piores pesadelos. Não havia dúvidas de que aquela guerra tinha sido de fato uma grande festança para o diabo e suas hostes demoníacas. Uma tragédia de dimensões tão eloquentes que dificilmente seria superada em apenas uma geração. Mas enfim, estava para nascer uma nova era, forjada no sangue e na determinação de heróis e anti-heróis, representantes de um povo cansado de ser pisado e humilhado, explorado e enganado por aqueles que tinham o dever e a obrigação de cuidar e proteger os seus. Na União dos Estados Confederados do Nordeste as obras de reconstrução trouxeram novas e grandes possibilidades. O entusiasmo era geral e o trabalho incessante, ao mesmo tempo em que milhares e milhares de nordestinos começavam a voltar de outras regiões a fim de reconstruir sua terra e formar uma nova nação. Grandes multinacionais, empolgadas com as grandes obras que surgiam, se instalavam no novo país. Enormes investimentos faziam de todos os estados da região em construção um infinito canteiro de obras. A mesma coisa ocorria nas outras regiões separadas, embora claramente os grandes investidores preferissem as regiões Nordeste e Sul. No ínterim, grandes empresas fecharam as portas no Sudeste e mudaram-se para a União dos Estados Confederados do Nordeste, enquanto outras migraram para a União Federativa dos Pampas, em busca de novas possibilidades, pois o Sudeste, em especial São Paulo, estava um caos. Cidades haviam sido desoladas pela guerra. Populações inteiras haviam sido exterminadas. Mas ainda assim, a força e o orgulho dos paulistas não se permitia sucumbir. No Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa era a própria visão do apocalipse. As populações das favelas ocuparam as áreas nobres da Capital, expulsando ricos e poderosos para os morros, onde muitos eram massacrados pelos traficantes que continuavam a dominar, agora mais fortes que nunca, graças à desordem criada pela guerra civil (porém, mal sabiam eles que após o fim da guerra, uma nova guerra seria desencadeada: uma guerra contra o tráfico, que exterminaria 90% dos traficantes do Rio e de todo o país, e os sobrevoventes seriam enviados para os superpresídio de segurança máxima na selva amazônica, de onde nunca mais sairiam). Nascia uma nova classe social, na qual os favelados, de posse de bens e possessões alheios passaram a ocupar o topo da pirâmide. Era a própria visão do inferno, hordas de moradores de rua e pessoas de comunidades devorando comida de rico e enojadas com o tal caviar. – Se não fosse a Revolução, eu nunca que ia prová essa iguaria. Muito menos saber que era uma coisa tão nojenta. Cruz credo! Ao mesmo tempo, por todos os lugares, os anteriores e intocáveis ricos das áreas nobres, sem poder escapar da cidade – pois todas as portas de saída (rodoviárias, aeroportos, portos, estradas, atalhos...) estavam fechadas ou bloqueadas –, empreendiam uma fuga alucinada pela vida, enquanto as hordas insaciáveis de sangue “nobre” faziam uma verdadeira caçada aos pobres miseráveis, que criariam verdadeiros esconderijos quilometrais pelos subterrâneos e esgotos da capital. E em muitos casos, a convivência com os roedores chegava a assumir verdadeiros vínculos familiares, no sentido mais notável e literal da palavra. Exceto quando os pobres ratos deixavam de ser uma agradável companhia para virar alimento servido com todo requinte. Afinal, velhos hábitos são qualidades que não se perdem facilmente, nem mesmo em face da calamidade. Não obstante, era fato: os ex-ricos (entre os quais uma legião de famosos) cariocas estavam comendo o pão que o diabo amassou. E graças a isso, a população de ratos seria reduzida dramaticamente, pois se tornariam um prato requintado nos subterrâneos da “cidade maravilhosa”, nova morada da orgulhosa, esbanjadora, intocável e arrogante elite carioca. Já na União Federativa dos Pampas, ocorria uma frenética perseguiçao aos chamados neonazistas, com linxamentos e prisões sumários. – Precisamos extinguir essa corja de dementes que se acham superiores aos outros. A frase proveio da boca carnuda de um jovem professor negro, entusiasmado com os ventos de mudança. E fazia certo sentido. Porém, não havia muito do que se orgulhar. Mais pavoroso que o deplorável conflito, só a assombrosa e repudiável quantidade de mortos. Foi algo tão horripilante que tornava difícil descrever até mesmo para os mais renomados jornalistas, cronistas, historiadores, sociólogos etc.