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Quinta Parte

Quinta Parte

                          Quinta Parte

                        “Avós do Brasil”

Durante a guerra foi até criado o programa satírico “Avós do Brasil”, que divertia e desestressava os revolucionários, cada vez mais habituados ao morticínio. O programa ironizava o tratamento precário do governo para com os idosos e as classes menos favorecidas, sempre deixados num plano de somenos importância. No comando, um elenco de idosos esfarrapados e subnutridos que incitavam a população e encorajavam as frentes de combate dando ênfase ao heroísmo e à veneração dos mártires que tombavam todos os dias. No ínterim, o elenco de idosos esfarrapados era uma homenagem in memory à pobre senhora que fora o estopim da revolução e consequentemente da guerra civil que a sucederia de maneira dramática. A verdade não se curva diante da mentira, mas a falsidade tem argumentos que desnorteiam a própria razão, e podem destruir até o homem mais sábio. Porém na guerra não existe verdade, nem mentira, nem falsidade, nem razão e muito menos sabedoria. Os argumentos são vazios e a estupidez, moldada por palavras vãs é a maior virtude. Homens morrem e matam por motivos que desconhecem e não raro por mentiras descaradas ditas em forma de verdade. Mas homens sábios não conduzem guerras, porque homens sábios não pegam em armas e nem fomentam a guerra. O homem sábio é como uma águia, mas o tolo não é mais que um urubu. Homens engenhosos e astutos encantam as multidões, seduzindo com palavras macias, porém cheias de falsidade, pois sua ambição é política, e não raro de interesse escuso e egoísta. Mas o homem sábio ilumina até mesmo a escuridão, e não usa artifícios de sedução, pois não clama em nome da calamidade e nem politiza seus argumentos para espoliação do próximo. Um é maléfico, o outro é altruísta. Aos acusados injustamente, dou não um conselho – pois não me sinto com força moral ou autoridade para aconselhar quem quer que seja –, mas uma simples dica: Não fuja de uma acusação supostamente verdadeira, tornando-se culpado por ela; enfrente-a e prove que ela é falsa. Afinal existem “verdades” e “mentiras”, e embora ambas aparentem ter base de sustentação, somente a verdade consegue se manter serena e de pé. Ela vai olhar quem quer que seja no fundo dos olhos, permitindo-o enxergar sua transparência. Ao contrário da verdade, a mentira olha para o chão, pois seu olhar não consegue emanar o brilho que só a verdade possui. No final das contas, seu jogo de falsidade e dissimulação não prevalecerá. É fato: passem-se dez, vinte, cem ou até mil anos, a verdade sempre virá à tona. Esteja ela submersa no mar ou sob a areia do deserto, ou reprimida no lugar mais recôndito da mente humana, um dia ela inexoravelmente virá à tona.