Décima Segunda Parte
Décima Segunda Parte
A República Federativa do Brasil ameaçada
Com a Lei Marcial e o fim das garantias individuais, o conflito deixou de ser encarado como um levante popular, pois as dimensões do desastre já eram grandes demais para ser ignoradas. A situação só ficou ainda mais complicada e confusa, pois se de início as forças armadas tinham por objetivo controlar a situação e restabelecer a ordem perdida, de repente estavam envolvidas – muito a contragosto – em confrontos diretos com os insurgentes civis (aos quais se uniam mais e mais militares). Não era mais possível negar o fato de que o Brasil estava vivenciando uma terrível guerra civil. Era um verdadeiro desastre nacional, e não tinha como voltar atrás. O Governo tentou sentar à mesa de negociações, mas a URNON se recusou veementemente, acusando-o de estar manipulando a situação puramente em favor de seu mandato, sem nenhuma pretensão de assumir compromissos de mudanças. Não havia nenhum interesse real, exceto a continuidade de sua gestão corrupta, afundada em escândalos e desvios descarados de dinheiro. Por outro lado, a URNON estava determinada a fazer ruir o sistema corrupto e salvar o Brasil dos sanguessugas que governavam para si próprios, e não para o povo brasileiro. internamente, as Forças Armadas estavam divididas por opiniões divergentes que oscilavam muito. Era claro que o exército não estava nem um pouco satisfeito de ter que encarar uma dispendiosa guerra civil, cujo saldo de vítimas seria muito alto. “Nos preparamos para defender a Pátria contra algum eventual inimigo externo, e eis que de repente nos vemos forçados a aceitar a ideia de que nosso inimigo está entre nós mesmos. É muito triste e embaraçoso. Esta não é a função das Forças Armadas.” Palavras de um oficial de alta patente do exército, triste com a eclosão da guerra civil, e que desertou em favor dos revolucionários. Enquanto nos bastidores das Forças Armadas ocorriam divergências de opinião sobre quem estava certo ou quem estava errado, nas linhas de frente o exértcito estava confiante de que apesar do tamanho do conflito, as coisas logo seriam colocadas nos eixos, afinal dispunham de todo aparato bélico oficial necessário para abafar o antagonismo nacional. Entrementes, as forças federais se viram de repente lutando contra um inimigo que convergia de todos os lados, cada vez mais forte, decidido e mais bem equipado. Era como se todos houvessem subitamente perdido a razão, uma nação ébria e em ebulição, enlouquecida e não disposta a ouvir os clamores do bom senso. Para os revolucionários era tudo ou nada, num avanço implacável, movidos pelo desejo insaciável de libertar o Brasil da escravidão de um sistema corrupto e deplorável. O primeiro foco de divisão das Forças Federais se deu no Nordeste, onde centenas de militares desertaram do exército e aderiram à revolução, passando a organizar o passo a passo do avanço contra o inimigo que se aproximava a partir de São Paulo e do Centro-Oeste cada vez mais com força total. Com o tempo, mais e mais militares simpatizantes dos revolucionários e descontentes com o sistema, engrossavam as fileiras dos insurgentes. Mas o apoio de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, e pouco depois os estados da Região Sul, que tentavam pôr ordem em suas próprias casas, foi essencial para os nordestinos rechaçarem as tropas federais que tentavam a todo custo se impor na região a partir da Bahia. Porém foi na ponte que divide as cidades de Petrolina, em Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, que os nordestinos e seus aliados sudestinos e sulistas mostraram a que vieram, desbaratando por completo o exército, e fazendo milhares de prisioneiros. Tendo assumido o controle total dos estados do Nordeste, os aliados por fim, às duras penas, entraram no território dos orgulhosos paulistas, penetrando pelas divisas de Rio de janeiro, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. Cercados por todos os lados, ao mesmo tempo em que tentavam a todo custo consolidar a ordem interna, as forças paulistas não deixaram-se abater. Fortes, bem equipadas e com o reforço de tropas, além de equipamentos, vindos das regiões Centro-Oeste e Norte, impuseram pesadas baixas em todas as frentes de combate, tanto dos revolucionários paulistas como dos aliados que penetravam no estado por Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de janeiro, Paraná e Mato Grosso do Sul. Eram várias frentes para manter. Mas em menos de dois meses, a situação mudou contra os paulistas. Os números falaram mais alto, e assim as tropas aliadas logo adentravam as principais cidades do estado. Por fim voltaram sua atenção para a capital, que já estava quase praticamente dominada pelos revolucionários paulistas. Mas com o apoio dos milhares de rebeldes aliados vindos dos outros estados, não demorou para que a principal capital do Brasil por fim capitulasse. No ínterim, verdadeiros massacres haviam sido perpetrados antes que as lideranças se sentassem à mesa de negociações para entrar num consenso – até então, os rebeldes paulistas achavam que não precisavam de nenhuma ajuda externa para consolidar sua revolução. Os resultados positivos e imediatos conseguidos após a união de forças mostraram o quanto eles estavam errados em seu orgulho. Os termos exigiam que todos os estados rebelados se unissem em torno de um objetivo comum, ou seja: consolidar a vitória sobre a União e dividir o país. A proposta não era bem vista pelos paulistas, que a recusaram, pois tinham interesse em manter a integridade da República Federativa do Brasil. Mas não tinham como se impor sobre todos os demais, e assim o acordo foi firmado e assinado por todas as partes. O documento exigia a renúncia do Presidente e o fim das ações militares. O representante de Brasília levou uma cópia do documento para apreciação do Presidente da República. A proposta foi rejeitada veementemente pelo Presidente, que via na “renúncia” uma ofensa à sua pessoa, e na separação do país “uma afronta à Constituição Federal”. As ações militares continuariam.