Décima Quinta Parte
Décima Quinta Parte
Reflexão em meio ao caos
Era difícil imaginar que o estopim de toda aquela brutal insanidade fora algo tão estúpido que era até difícil de se acreditar ou explicar. Uma clara e evidente demonstração de como os homens são propensos à irracionalidade e podem partir de uma mera discussão ou algo banal para um entrevero mortal, pura e simplesmente em defesa de algo conhecido não como honra, mas como orgulho ferido. Até porque honra é algo raro de se ver, sentir e admirar em tempos de guerra. Já orgulho ferido é uma qualidade que até os estúpidos possuem, mesmo quando não exista qualquer razão para se orgulhar. O jovem fotógrafo francês ficou parado por um instante. Havia uma inquietante sensação de impotência, enquanto ele olhava as dezenas de corpos espalhados de ponta a ponta em toda a extensão da ponte. Gritos de dor de quem ainda estava vivo, se confundiam com Gemidos de moribundos. O jovem francês fotografava aleatoriamente. Não havia exatamente o que ser registrado, porque era difícil especificar algo. Tudo era uma calamidade digna de ficar na história como algo deplorável que jamais devia ser repetido. Tudo parecia um drama sem explicação racional, que gerava um dilema inevitável: até que ponto pode chegar a ilógica humana? De repente todos os sons desapareceram, quando uma explosão ecoou súbita e inesperada, lançando-o a vários metros de distância, deixando-o desorientado. Aos poucos foi voltando a si. Só então percebeu a gritaria no ar, comandantes sobre comandados. Sons de explosões e rajadas eram ouvidos do outro lado do rio. Caminhões abarrotados de combatentes passavam apressados do lado pernambucano para o território baiano. As equipes de socorro, numa mistura de sotaques e idiomas, se arrastavam rumo aos feridos a fim de ajudar. Era uma desesperada corrida para proteger-se e para tentar salvar vidas. Em alguns lugares, a ponte fora seriamente danificada pelos bombardeios e pela intensidade da artilharia das tropas federais vindas do Sudeste e do Centro-Oeste, cujo avanço foi interrompido exatamente no meio da ponte, graças ao bem reorganizado esforço de contenção das forças nordestinas, que já contavam com um grande número de soldados que haviam debandado do lado do governo. Para chegar até aquele ponto, entretanto, o exército havia causado sérias baixas no estado da Bahia. Rechaçadas num dos principais pontos de acesso aos demais estados do Nordeste, as tropas federais foram forçadas a voltar à cidade de Juazeiro, onde logo seria desencadeado um combate feroz – beco a beco, rua a rua – que duraria três dias e três noites de considerável derramamento de sangue. Mas a feroz resistência das forças nordestinas e seus aliados conduziu os combates de maneira corajosa e eficiente pela antiga cidade baiana, obtendo êxito total no terceiro dia, domingo, quando as forças federais se renderam, cerca de cinco mil homens – que em breve engrossariam as fileiras insurgentes, convencidos pelos ex-companheiros de farda que já lutavam em prol da causa separatista. Dezenas de blindados, muito armamento e abundante munição foram “confiscados” pelos insurgentes.