A Maldição do Barbatão Negro - Amor e Tragédia
A Maldição do Barbatão Negro
Amor e Tragédia nas Veredas do Sertão
O Início de Tudo
Sabe como é criança, fica tudo atiçada diante de novidades. Eu e meu primo Beto não fugíamos à regra, nem tampouco éramos exceção. Aquela cena aguçou nossa curiosidade. Afinal, criança é criança.
Dois vaqueiros e um lindo exemplar de touro negro. Passando lentamente pela estrada que seguia rumo ao “apertado da hora”, lugar sombrio e claustrofóbico não muito longe dali. O “apertado da hora” é uma passagem dentro da serra, lugar propício para visagens, pois em tempos antigos, era ali que as pessoas descansavam dos pesados féretros ou redes que continham os mortos a serem sepultados em solo sagrado no velho cemitério da Vila de Tacaratu.
Pois bem. Lá vinham eles. E à medida que se aproximavam, fomos nos achegando mais à margem da estrada, guiados pela curiosidade e pela excitação. A estrada era protegida por uma infinita fileira de aveloses que a ladeavam por quilômetros a fio. Aveloses, testemunhas de bons tempos, mas também de épocas difíceis, onde homens confundiam covardia com heroísmo e cangaceiros faziam a lei.
Era um lindo touro, de pequenos chifres, robusto, cor de ébano. Enorme cupim o adornava, completando sua postura altiva e arrogante. Guiando-o, dois vaqueiros relaxadamente desposturados e ligeiramente distraídos, muito à vontade. Pareciam seguros, confiantes do que faziam. Mas... Bom, os eventos futuros próximos mostrariam que confiança demais pode ser um erro.
Um vaqueiro à vanguarda tinha uma corda presa à sua cela, ligando-o qual guia dominante aos cornos do touro negro logo atrás, que usava uma máscara de couro sobre seus olhos, impedindo-lhe a visão frontal, mas permitindo a vista pelos flancos. O segundo vaqueiro, na retaguarda, também tinha uma corda presa à sua cela, ligando-o aos chifres do animal logo à sua frente. Imagino que a distância que separava vaqueiros e animal era de pelo alguns metros.
Mas o touro demonstrou certa impaciência assim que percebeu, lateralmente, meu primo e eu a observá-lo admirados do outro lado da muralha de gravetos-do-diabo – outro nome para avelós. Decerto nossa presença a assisti-lo em sua passagem sujeitado, insultava-o em sua inglória e indigna posição. Mas manteve-se passivo e aparentemente resignado.
Eu, porém, muito danado, não apenas satisfeito de contemplar o jovem gigante negro, fiz um gesto de cara feia mostrando-lhe a língua malcriada em provocação ao animal. Se ele precisava de um pretexto para exteriorizar seu descontentamento, aquele pelo jeito lhe pareceu um motivo mais que razoável para mostrar a força de seu poder bovino.
Para completar a desgraça, minha ofensa ao jovem touro ocorreu justamente no ponto em que havia a passagem de acesso livre à estrada. E foi assim que de súbito, ele reagiu abruptamente, empertigando-se para trás. O vaqueiro da vanguarda, pego desprevenido pela inesperada freada involuntária de seu cavalo, voou para trás rumo ao chão num baque s