Décima Primeira Parte
Décima Primeira Parte
O Orgulho da ROTA Sob Fogo Cruzado
Quando finalmente o sistema político organizado da Região Nordeste começou a titubear diante da guerra civil e tudo estava dominado, as lideranças se reuniram na capital baiana, quase em escombros, e assinaram o Tratado de Salvador, que declarava consolidada a conquista em toda a região, embora os bombardeios continuassem afligindo as principais cidades. Foi criado um governo central provisório, até que o resto do país também estivesse “em paz”. Ali na capital baiana, as lideranças vindas do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de Minas Gerais, de São Paulo e da Região Sul, assumiram o compromisso de continuar a luta até que tudo estivesse sob controle. Uma parte das tropas permaneceu na região para assegurar o controle das fronteiras e impedir o avanço dos federais. Milhares de homens foram enviados para ajudar em Minas Gerais e de lá entrar em São Paulo, o estado mais forte e que embora fosse o foco da revolução, ainda conseguia manter certa medida de ordem e civilidade – apesar dos intensos entreveros que se desenrolavam entre os revolucionários locais e os federais. São Paulo preocupava as demais lideranças, pois os resultados por lá, apesar de muito expressivos, ainda eram bastante incertos, ora favorecendo um lado, ora o outro. E era aí que certamente os demais aliados fariam a grande diferença, com seus enormes contingentes humanos, além de grande poder de fogo, graças aos muitos militares que haviam mudado de lado. Uma coisa ali, no entanto, era mais que certa: os sangrentos confrontos entre a população e as forças policiais estavam muito bem decididos. Não existia mais corporação organizada. Não havia sobrado pedra sobre pedra. No último e decisivo confronto, um grande contingente de outrora seguros e arrogantes representantes da lei e da ordem, se refugiara no antigo complexo da polícia de elite mais temida de São Paulo*. A esperança era que aguentassem o ataque até a chegada de vários helicópteros militares designados para retirá-los do local e conduzi-los para a segurança de uma base da aeronáutica. Por outro lado, um grupo de elite do exército, composto de aproximadamente trezentos e cinquenta homens, tentava avançar rechaçando o bloqueio revolucionário que dominava a maior parte da cidade. O objetivo era dar cobertura aos helicópteros de resgate e tentar reassumir o controle daquela área da capital. Porém antes mesmo de sobrevoar o espaço aéreo da região da Luz, os cinco helicópteros foram fulminados pela artilharia do inimigo. Dois foram abatidos. Os três restantes receberam ordens de abortar a missão imediatamente, deixando o grupo de elite da ROTA em sérios apuros. Ao penetrar na Avenida Tiradentes, o comboio do exército foi detido e fulminado. Em pouco mais de uma hora de combate, as tropas do governo, em número pelo menos quatro vezes inferior ao adversário, se viram obrigadas a render-se. Somente metade dos soldados haviam sobrevivido, ao passo que do lado rebelde foram registradas pelo menos duzentas baixas, vinte e cinco a mais que os militares. Dentro da sede da polícia de elite, os homens se recusavam a sair de mãos pro alto. Não estavam “dispostos a se humilhar diante de um bando de carniceiros”. Por fim o líder daquele grupo e responsável pelo setor, cansado de gastar salivas, determinou que a artilharia resolvesse a questão. Foi uma chuva de balas tão intensa que mais parecia o fim do mundo. Até que as estruturas do complexo sucumbiram sob a impiedosa e mortal saraivada de projéteis, caindo sobre seus últimos defensores, que antes mesmo de receber a chuva de escombros, já haviam perecido ante o fogo inimigo. *Sede da ROTA: Av. Tiradentes, 440, Luz, SP