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Uma luz no fim do túnel
Lawrie abriu os olhos a muito custo. O ambiente branco lhe causou uma estranha sensação, como se de repente estivesse emergindo no céu. Só após um longo tempo de confusão mental, começou a entender que estava num leito de hospital, e aquela mulher diante de si, olhar tão expressivo e meigo, não era um simples anjo, mas sua mãe, o mais angelical de todos os anjos. A mulher a abraçou contra si, numa felicidade tamanha como se fosse explodir de emoção. Mas Lawrie se manteve distante e fria, não porque estivesse insensível ao carinho de sua mãe, mas porque algo a incomodava. Algo estava estranhamente fora da normalidade. Mas ela não conseguia entrar num consenso consigo mesma sobre o que era ou poderia ser. O que estava havendo? Por que não conseguia se lembrar? Por mais que vasculhasse a memória para resgatar a lembrança, ela teimava em escapulir-lhe, como se memórias recentes estivessem proibidas de vir à tona. Sentiu-se tonta e uma pontada na cabeça a fez esticar-se na cama.
O médico explicou que ela havia passado por algum trauma, e ainda levaria um tempo até recuperar-se completamente. Precisava ter muita calma. Com o tempo talvez pudesse se lembrar dos acontecimentos que a haviam levado a ficar desaparecida durante os últimos quinze dias.
Ela ficou espantada, pois não conseguia se lembrar de absolutamente nada. Aos agentes da polícia anti-seqüestro, não pôde acrescentar nenhum detalhe que ajudasse nas investigações. Tudo levava a crer que ela tinha sido seqüestrada e que por alguma razão seus seqüestradores desistiram de pedir resgate e libertaram-na após um período decidindo o que fazer com ela. Mas aquela tese também não fazia nenhum sentido para o delegado responsável pelo caso. Exames mostraram que Lawrie aparentemente não sofrera nenhuma violência sexual. Por fim veio a informação mais relevante e que possivelmente poderia ter sido a provável causa de seus supostos seqüestradores terem desistido de pedir seu resgate: Lawrie estava grávida de pelo menos três meses.
– Provavelmente, sei lá, um seqüestrador com crise de consciência, desconfiou que ela estava grávida e resolveu desistir, vai saber.
– Mas isso não faz sentido, doutor.
– Eu sei, eu sei – respondeu o delegado –, mas até ela começar a recobrar sua memória totalmente, o que temos? Nada.
O policial deu de ombros.
– Pior que é verdade, doutor.
– Sabe quantos jovens desaparecem todos os dias? É um absurdo.
– E a última pessoa com quem ela parece ter mantido contato ultimamente foi aquele rapaz do parque que aparece nas imagens das câmeras.
– O empresário? O sujeito é mais limpo que bunda de bebê. Irrepreensível, quase perfeito.
– Gente assim, hein, doutor?
– Pois é. Mas até que tenhamos algo contra ele...
De repente o policial arregalou os olhos para o delegado.
– Ué, doutor! O cachorro da moça não desapareceu?
– Sim. Por que?
– E não era um Dobermann?
– Sim. Mas, aonde você quer chegar?
– É impressão minha ou havia dois Dobermans brincando no quintal do tal carinha de anjo?
– Desgraçado...
– Talvez a gente deva fazer uma nova visita ao jovem, não é não, doutor? Nem que seja só pra dar uma olhada naqueles lindos cães.
– É. Pensando bem, acho que você tem razão.
– Acha que já devemos informá-lo sobre o reaparecimento da garota, doutor? Pode ser um primeiro passo importante. Ele parecia tão preocupado com ela, não é mesmo?
O delegado se virou para o policial, olhar malicioso.
– Está insinuando o quê? Que o cara pode ser a chave do mistério?
– Doutor, pensa bem: aquele olhar insuspeito, sempre com uma resposta na ponta da língua, os dobermans... – sorriu ele, após dar uma piscadela com o olho direito. – Doutor, fala sério, a gente é macaco “véi”, né não, doutor?
– Yeah.
:)