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O Preço da Vida
A mulher estava indignada enquanto falava ao telefone.
– Como você pôde cometer um erro desses?
As respostas do outro lado da linha não pareciam estar satisfazendo-a.
– Que isto nunca mais se repita, senão você vai ter que se explicar com os cinco. Isto é um absurdo, um erro desses pode colocar tudo em risco, você sabe disso.
Antes mesmo que a pessoa se explicasse, ela desligou furiosamente o telefone. No mesmo instante pegou o rádio de comunicação interna.
– Como está a reserva?
– Completa, senhora, respondeu uma voz grave.
– Ok. Envie imediatamente uma Unidade Substituta pro Subdiretório A4, Lote 06.
– Qual a Unidade Descartada?
– 10.
– Será feito imediatamente.
Assim que terminou de ouvir a resposta da pessoa responsável pelo “estoque”, ela pegou o celular e discou outro número. Assim que ouviu o “salve”, já foi direto ao assunto.
– Prepare o pessoal. Temos uma UD* e não podemos perder tempo.
*UD: Unidade Descartada
Lawrie ficou numa sala, observada pelos dois homens. Na parede, uma câmera piscava atenta. Por um momento ela imaginou quem estava por detrás de tudo aquilo e qual o objetivo por trás de tantos seqüestros. Um bebedouro num canto parecia convidá-la a matar a sede. Ela fez um gesto para os homens, perguntando se podia beber água. Um deles fez um sinal negativo.
– Ainda não, completou mostrando que sabia falar.
No mesmo instante o celular vibrou e ele atendeu.
– Já podem deixar ela beber.
– Ok – respondeu ele, guardando o celular em seguida. – Pode ficar à vontade, moça, disse apontando para o bebedouro de água fresquinha e convidativa.
Lawrie agradeceu e levantou-se, seguindo na direção do galão. Bebeu dois copos cheios, pois estava com muita sede. Depois voltou a sentar, mãos sobrepostas sobre o colo. Não conseguia parar de pensar na reação do misterioso médico poucos minutos antes, após examiná-la. O que ele descobrira, afinal, para reagir daquele jeito? E aquela mulher estranha, que tanto a impressionara? Quem era ela? Por que ficou tão tensa e preocupada? Ela parecia mandar e desmandar por ali.
Os homens se entreolharam. Um deles observou o relógio no pulso, em seguida se espreguiçou antes de retornar à postura rígida, braços cruzados e olhar frio.
Lawrie estava se sentindo muito confusa com tudo aquilo. Mas, por alguma razão desconhecida, não estava com medo. Tentou relaxar, sem entender por que estava sendo mantida sob vigília naquela sala. Instintivamente, levou as mãos ao abdômen e massageou. No mesmo instante o mundo começou a girar violentamente e ela tentou se segurar para não cair. Mas a escuridão foi tão rápida que ela nem percebeu quando um dos homens a pegou nos braços antes mesmo que ela fosse ao chão.
Na sala de monitoramento, a mulher observou enquanto o segundo homem abria a porta para o companheiro passar com Lawrie nos braços, mole como uma boneca sem vida. A mulher então saiu imediatamente e desceu na direção do corredor abaixo, onde os homens já colocavam Lawrie num carro maca, sob o olhar atento de um terceiro homem e uma mulher trajando jalecos. Logo todos estavam seguindo pelo longo corredor, no fim do qual uma sala de cirurgia já pronta esperava por eles. Lawrie foi transferida para uma mesa de cirurgia. Os dois homens saíram em seguida e postaram-se às laterais da entrada.
A mulher então se retirou da sala de cirurgia e adentrou uma sala lateral, onde se sentou confortavelmente frente a um enorme vidro pelo qual podia ver a micro cirurgia que estava prestes a acontecer do outro lado.
Tudo preparado, uma pequena área da cabeça de Lawrie foi raspada. O médico iniciou um corte muito pequeno e começou o procedimento, que durou cerca de uma hora. Ao fim de tudo, ele olhou para o vidro e fez um sinal de positivo. Do outro lado, a mulher sorriu, levantando-se em seguida e saindo da sala.