Sétima Parte
Sétima Parte
Estava distraído a preparar o charque, quando uma estranha sensação o fez olhar para um dos grossos galhos do imbuzeiro, não muito alto. E então tomou um susto ao dar de cara com uma bizarra figura negra a observá-lo, os olhos brilhantes. Era uma criatura enorme de estatura, dava pra perceber. O homem ficou estático, dominado por um terror mórbido que o paralisou. Como se aguardasse o momento de ser percebida, a criatura se deslocou do galho para o próximo galho acima das redes e de lá esticou a longa perna até o chão, do lado oposto da fogueira, tendo atrás de si a criança e à sua frente o homem desenganado de pavor. Ela se postou de cócoras, de modo que ficou claro que tudo em seu corpo era desproporcional. Sua cabeça, sobre um pescoço longo e fino, se estendia à frente por entre as coxas esqueléticas que se estendiam bem ao alto, mostrando joelhos finos e pontiagudos que sustentavam pernas muito longas. Seus olhos faiscavam, fixos no homem apavorado.
Depois de um tempo sem conseguir respirar, o coração enlouquecido e o corpo a tremer sem cessar, o homem por fim conseguiu balbuciar algo.
– Quer carne?
– Quero, tem?
– Sim...
O homem cortou um pedação e deu à criatura, que recebeu e enfiou na boca de uma só vez, mastigando sem tirar os olhos do sertanejo, como se quisesse devorá-lo também. Ao perceber que ela parara de mastigar e lambia os beiços, ele voltou a perguntar, a voz trêmula.
– Quer mais carne
– Quero, tem?
Ele voltou a cortar mais um naco e lhe entregou. E de novo ela mastigou como se o pedaço não passasse de um petisco. E ele lhe deu mais. E assim chegou ao último pedaço, quando ele perdeu as esperanças.
– Quer mais carne?
– Quero, sim! Tem?
– Coma esse, eu vou buscar mais, é logo ali...
Ela olhou na direção em que ele apontava. À noite clara os animais carregados podiam ser visto nitidamente pastando ao redor do imbuzeiro.
– Vá, mas não demore, eu tô com muita fome!