Criar uma Loja Virtual Grátis

CAPÍTULO XIV - Epílogo

CAPÍTULO XIV - Epílogo

CAPÍTULO XIV

EPÍLOGO - O PERDÃO

 

                                   

 “No fim, enfim... a paz interior.”

 

 

Entrementes o bizarro negro fungou

Próximo ao seu rosto enrugado,

Depois curvou a cabeça poderosa

Como que permitindo ser tocado.

José Maria, por um momento desconfiado,

Ficou ligeiramente enjoado.

 

 

Mas por fim respirou fundo

E humildemente a cariciou

A cabeça do imponente malvado.

Mas teve uma estranha sensação,

Como se aquela atitude de perdão

Estivesse libertando um escravo.

 

 

O barbatão agitou a vigorosa cabeça

E os olhos chamejantes ficaram normais.

Depois fungou e afastou-se devagar,

Como se houvesse encontrado sua paz.

Foi quando um enorme redemoinho

O envolveu e ele não foi visto mais.

 

 

O velho Coronel Doutor sorriu, melancólico.

Balbuciou: “No fim, enfim... a paz interior.

Qual o propósito da vida? O que é o amor?

Por que há dor? Eis-me aqui, meu Deus...”

Contemplou as cruzes à frente, bucólico.

“... Pronto para reencontrar os meus.”

 

 

Tarso Mauro arrepiou-se todinho

Diante do súbito frio indiferente.

Resolveu então levar o pai de volta pra casa,

Mas foi aí que se abalou completamente

Quando o viu de olhos abertos e imóvel,

Pois o ancião falecera serenamente.

 

 

Atônito e sem racional reação,

Muito emocionado afagou o pai, a chorar,

Mas não pôde deixar de notar

Um forte cheiro de enxofre no ar

E as marcas profundas de patas no chão,

Como se um touro estivera ali a andar.

 

 

Hoje, para quem quiser comprovar os fatos,

É só ir ao glorioso Estado de Pernambuco,

Pois todas as provas permanecem lá.

Debaixo de um juazeiro decrepto e caduco,

Quatro cruzes, numa delas um letreiro:

“Aqui jaz a última vítima do touro do juazeiro.”

 

 

Recentemente, foi construído um cruzeiro

No cume do outeiro do fazendeiro,

Donde outro enigma veio acrescentar,

Visto que após séculos sem vestígio de vida,

Não é que de repente o temido monte verdejou,

A nascente explodiu e a água voltou a brotar?

 

                            

Quanto a se este é o fim da história, vou falar sério:

Nem eu e nem ninguém jamais poderá afirmar.

Afinal, a vida por si só, já é um enigmático mistério

E assim como a água evapora do mar e sobe pro céu

Onde vira chuva, rega a terra e volta pro mar,

Como saber se a maldição do barbatão negro não vai voltar?

 

                              Fim