CAPÍTULO X

CAPÍTULO X

CAPÍTULO X            

A Busca – O Encontro!

 

 

Quando José Maria chegou à fazenda,

Trazendo novas cabeças de gado,

Já eram bem mais de dez horas.

Achou estranho, pois habitualmente

A mãe sempre vinha encontrá-lo.

Naquela noite não seria diferente.

 

 

“Será que minha mãe adoeceu,

Visto que meu irmão vai viajar?

E João José, onde estará ele agora?

Será que já foi embora antes da aurora,

Sem nem ao menos me esperar?

O homem faz sua hora, melhor ir averiguar.”

 

 

Deixou Belquior, Antônio, Manoel e Morgado,

Com a tarefa de encurralar todo o gado.

Eram homens eficientes demais

E que ali trabalhavam como vaqueiros

Desde os tempos de seu falecido pai

No século que já havia terminado.

 

 

O cavalo Bretão*, num rápido galope,

Parou à frente do casarão,

Ansioso para prosseguir no trote.

José Maria saltou ao chão,

Segurando à mão o seu chicote.

Adentrou a casa quase num pinote.

 

 

Passou pela dócil moçoila Ana

Tão concentrado que nem a notou

E nem percebeu sua nítida reação,

O modo carinhoso como ela o olhou.

(pois sempre que o tinha por perto,

Tremia-lhe o corpo e o inocente coração.)

 

 

Pelo gaguejar de Luzia, mãe de Ana,

Morena pankararu de uma região serrana,

Casada com o bravo e fiel Belquior,

O rapaz pressentiu logo o pior;

E quando Luzia relatou os fatos,

A notícia não era muito melhor.

 

 

Ainda de tardinha saíra a patroa Maria

Para um passeio com João José.

E até àquela hora, o dia há muito acabado,

Os dois ainda não haviam voltado.

Luzia ainda falava com o jovem patrão,

Quando Belquior chegou afobado.

 

 

“Patrão, o cavalo Murici e o Campeão

Chegaram agorinha mermo à fazenda,

Sozinhos e desembestados igual dois amaldiçoados!

E devem ter corrido quiném condenados,

Pois tão um bocado suados.

Nunca vi animais tão assustados!”

 

 

De imediato, sem pensar muito,

O jovem pegou o rifle e a cartucheira.

Na cintura, o facão e um punhal,

Pois ainda estava de gibão, esporas e bornal.

Em seguida montou o cavalo Bretão

E disparou em desabalada carreira.

 

 

Seguiu pela trilha rumo ao sul,

Pois conhecia cada palmo por léguas,

Como se fosse o seu próprio quintal.

Pretendia correr sem tréguas,

Aproveitando o luar intenso,

Porque algo lhe cheirava muito mal.

 

 

Os vaqueiros seguiram juntos,

Alarmados e armados até os dentes,

Como que indo pra guerra.

Mas se separaram quilômetros à frente

Para melhor vasculhar a terra,

Da planície até os confins da serra.   

 

 

O combinado foi muito bem explicado

Entre todos os cinco vaqueiros,

Antes mesmo de gritarem “AVANTE!”:

Quem primeiro encontrasse pistas,

Avisaria os demais companheiros

Pelo poderoso toque do berrante.

 

 

Por alguma razão obscura, José Maria,

De instinto muito apurado e aguçado,

Resolveu seguir pela antiga trilha

Onde em remotos tempos passados,

Soldados holandeses haviam sido massacrados,

E mais recentemente servira como rota de gado.

 

 

E quanto mais ele fosse ligeiro,

Tanto mais cedo chegaria

Ao arenoso e nostálgico Riacho Seco,

No setor onde estava localizado

O antigo e assombrado pé de juazeiro

Em seu misterioso enigma intrínseco.

 

 

Seguindo aquela mesma trilha

Onde abundavam as onças do sertão

E guarás vagavam em matilhas

Pela vereda qual vergão,

De pedregulhos mesclados à areia

E piçarra no centro do seco ribeirão

 

 

Seguia beirando a margem acidentada

Do riacho pela maldição esgotado.

E antes de circundar o Outeiro do Fazendeiro,

Levou um susto muito incrementado,

Quando ao lado da cruz - debaixo do juazeiro-,

Estava um touro negro com pose de brabo.

 

 

Era uma imagem difícil de acreditar,

Pois o animal negro era deveras um colosso.

Uma sombra sinistra, firme a olhar

(Daquelas que fazem o doce ficar salgado,

O salgado ficar indigesto e insosso

E o bife virar um osso difícil de mastigar.)

 

 

Com o coração em ritmo acelerado

E a mente fervilhando de emoção,

Lembrou-se do pai, bravo e obstinado,

Sobre o dorso de um enorme touro negro

Que pulava como um endiabrado

E despedaçava até mourão petrificado.

 

 

Não tinha motivos para duvidar:

Ali estava o matador de seu pai,

Contra o qual José Maria,

Desde tenra criança, jurara vingança.

Daquela ele não poderia escapar,

Apesar da pose de inabalável confiança.

 

 

Era como se o monstro gigantesco

Já estivesse à espreita a esperá-lo,

Pois se voltava na direção de sua chegada, 

Como que impaciente a aguardá-lo.

Quando o viu, lançou-se num impulso,

Mas freou abrupto a encará-lo.

 

 

Um frio na espinha de José Maria

Insistia impelindo-o a voltar,

Mas seu arraigado instinto de vingança

Persistentemente o incitava a avançar.

Nem percebeu o repentino nevoeiro

Que já circundava todo o lugar.

 

 

Nisso, deu sinal pro cavalo Bretão,

De raça imponente, altivo e vigoroso,

Que impulsivo sem vacilar,

Avançou destemido contra o maldoso

Que se agitava empertigando-se todo,

Num inquieto furor amargo e belicoso.

 

 

 Nota do Autor:

*O nome Bretão não é uma alusão à raça do animal, natural da Bretanha,

Mas ao nome próprio dele. Outrossim, o Bretão em pauta era um garanhão

respeitado, do qual originou-se uma famosa linhagem de campeões do sertão pernambucano.