Capítulo 5
Capítulo 5
O fim, a lenda
“Sonhos que desmoronam às intempéries; paredes que sucumbem sob o temporal; ventos que sibilam clamores de sonhos destroçados. Medo que lacrimeja no olhar sem esperança.”
Não demorou para que a chuva se transformasse num verdadeiro dilúvio, deixando-o tenso e até menos confiante. Lá fora os ventos cortavam sibilando. Rapidamente o buraco começou a ficar cheio de água.
Mas por alguma razão ele não estava disposto a largar a pedra. Poderia deixá-la ali, afinal sabia onde ela se encontrava. Se fosse preciso, cavaria novamente até localizá-la de novo. Mas ele preferiu usar a camisa para prender seu tesouro ao corpo, embora aquilo só aumentasse seu peso sobre o terreno barrento aos seus pés. Terreno que se tornava tão pouco denso que ele afundou até a altura dos joelhos, ficando subitamente em sérios apuros.
Pra piorar, começou a cair granizo, muito granizo. O homem tentou proteger a cabeça usando a parte metálica da enxada, mas as pedras atingiam seu corpo causando intensos hematomas. De repente, sua dor só era menor que seu terror.
Então, inesperadamente, para dilacerar suas esperanças de salvação, o homem viu quando as paredes do buraco começaram a ameaçar desmoronar sobre ele.
– Por que, meu Deus? – gritou angustiado – Justo no recomeço, vem o fim?
E nesse momento ele pôs as duas mãos sobre o diamante enrolado na camisa e preso ao seu corpo. Desamarrou a camisa e pegou o diamante. Ergueu-o em direção ao céu, no mesmo instante em que um relâmpago riscou os ares, fazendo o diamante emitir um brilho tão intenso quanto um raio de sol.
Abraçou forte seu gigante tesouro, pois uma convicção já o dominava indubitavelmente: havia cavado sua própria sepultura.
Segundo boatos correntes entre os esparsos ribeirinhos que habitam aquela região inóspita, aquele homem conseguiu, sem o diamante, sair do buraco e após o fim daquela chuva torrencial, ele conseguiu resgatar seu tesouro e vender por um valor altíssimo. Depois, juntamente com o amigo e suas respectivas famílias, sumiu no mundo, indo fincar raízes num longínquo lugarejo nalgum cantinho paradisíaco do Velho Mundo, nas terras de Portugal. Ali, segundo diz a lenda, ele fincou raízes por mais de quinze anos, mudando-se posteriormente para as terras do antigo Império Romano.
Segundo conta-se por aqui, por lá ele viveu como um rei por mais de cinquenta anos, vindo a falecer de velhice plena aos cem anos de vida, agraciado pelo privilégio de ter vivido a maior parte da vida e findado seus longevos dias num paraíso chamado Toscana.
Mas, boatos à parte – e é maravilhoso se os mesmos forem verdadeiros –, muitos asseguram que aquele ambicioso jovem foi vítima de sua irredutível sede de riquezas. Sede essa que se constituía em insensata estupidez, oriunda de sua persistente teimosia.